Durante os meses de Verão posteriores ao fecho da temporada de trutas, aproveito para conhecer o rio mais próximo e as formas de vida que nele existem. Além de uma boa oportunidade para refrescar os pés na água cristalina que desce a encosta da serra, estas visitas servem para observar o comportamento das trutas e estudar as suas fontes de alimento.
Assim foi no último fim de semana, em que passei um bom par de horas em busca de larvas de tricóptero para fotografar e identificar.
Estas criaturas podem ser facilmente encontradas procurando debaixo de rochas submersas na água, ou utilizando uma kick-sampling net – um utensílio construído com recurso a dois cabos e uma rede fina ou tecido permeável. Uma pesquisa de imagens no google permite rapidamente compreender o utensílio e a forma como deve ser utilizado.
Mas vamos ao que interessa: os bichos.
Os tricópteros são conhecidos mundialmente pelos pescadores de trutas. Este insecto aquático representa uma importante fracção das calorias ingeridas pelas trutas no seu habitat natural, razão pela qual o seu conhecimento e identificação é essencial para o pescador de pluma.
Neste artigo foco um dos estados de maturação desta espécie de insecto – o estado denominado de ninfa, em que vivem debaixo de água sob a forma de uma larva.
Algumas espécies de tricópteros constroem casulos como forma de se protegerem das constantes ameaças presentes no seu habitat, entre as quais, as trutas :).
Este tipo de protecção, no entanto, não é totalmente eficaz. Algumas das espécies constroem um novo casulo quando o anterior deixa de ter tamanho suficiente para as albergar. Por outro lado, os peixes mais famintos e de maior tamanho não hesitam em engolir larvas de tricópteros e respectivos casulos quando estes derivam na corrente de forma mais vulnerável. Por estas razões, as montagens de ninfas de tricóptero (com ou sem casulo) devem ser consideradas pelo pescador em acção de pesca.
Família Limnephilidae
É uma das espécies mais abundantes no rio em que fiz a recolha. Estas larvas de grande tamanho proporcionam sessões de pesca memoráveis quando imitadas e pescadas de forma adequada. Procuram as águas lentas onde é mais fácil movimentarem-se carregando o peso do seu casulo.
Família Rhyacophilidae
Outra sub-espécie importante são os tricópteros do género rhyacophilidae (vulgarmente conhecidos por rhyacophila).
Esta família contém sub-géneros algo distintos entre si.
Os mais conhecidos são os géneros Rhyacophila Dorsalis e Rhyacophila Obliterata, dos quais não consegui imagens, mas que habitam em abundância os nossos rios. Estas larvas não constroem casulo e, como tal, vivem de forma livre tornando-se uma fonte de alimento priveligiada para as trutas. Destacam-se pelo seu tamanho, segmentação pronunciada, e cor verde oliva.
Outros géneros desta família de tricópteros, de tamanho mais reduzido, constroem casulos (a partir de seda ou detritos) fixos às rochas, onde amadurecem até atingirem o estado de pupa.
Família Hydropsychidae
Outra família bastante importante, cujos insectos atingem tamanhos consideráveis, são os tricópteros hydropsychidae (ou hydropsyche). Os géneros mais comuns dispensam a construção de casulo, enquanto larvas, utilizando pequenas redes de seda para se acoplarem às rochas e recolher alimento arrastado pela corrente. A cor das larvas varia muito entre os géneros desta família, sendo bastante comuns os tons oliva, creme, ou acastanhados.
Outras famílias
Dada a diversidade de sub-espécies de tricópteros, por vezes, torna-se difícil identificar a família a que pertencem (na verdade, é bem provável que me tenha enganado nas identificações que fiz anteriormente). No entanto, importante para o pescador, é imitar de forma convincente as formas de vida que encontra nos rios que visita.
Desta forma, e como a silhueta dos insectos do mesmo género varia de rio para rio, é recomendável analisar as massas de água de forma a apresentar artificiais capazes de iludir o peixe, prestando especial atenção ao tamanho, forma, e cor das criaturas naturais, no momento de escolher o isco artificial.
Montagem de artificiais, e pesca com larvas de tricóptero
As ninfas de tricóptero são essenciais na caixa de qualquer pescador de trutas. Dada a variedade de famílias e géneros, podem ser utilizadas em diversas situações e com recurso a várias técnicas, tanto na pesca à vista, como recorrendo a técnicas de pesca à ponta com várias ninfas (czech nymphing, french nymphing, etc).
O sucesso da pesca com tricópteros depende também da capacidade de observação e raciocínio do pescador, que deve tentar adaptar as técnicas às condições com que se depara. Enquanto em águas rápidas e turvas uma ninfa checa genérica pode ser bastante eficaz, o mesmo não acontece nas situações em que o peixe tem melhores condições para inspeccionar a larva artificial (por exemplo em águas mais lentas e/ou claras) onde uma montagem mais realista é recomendável.
Nota final
Peço que não sejam muito rigorosos com a veracidade científica deste artigo. Apenas quis salientar algumas noções muito básicas sobre entomologia de tricópteros, e notas que fui tirando na minha vaga experiência a pescar e montar moscas deste tipo.
Não esquecendo que um dos objectivos deste blog é também aprender, peço ainda que corrijam as afirmações erradas e, eventualmente, comentem o artigo com informação adicional que achem relevante.
Boas montagens e pescarias!
Deixe um comentário